OS TALIBÃS NÃO SÃO PARA RIR ( DN de 26 de Maio )
"Derrotar os talibãs foi bem mais fácil do que se pensava. Cabul caiu ao fim de um mês de bombardeamentos, Kandahar ao fim de dois. E o mullah Omar foi visto pela última vez a fugir de mota dessa cidade do Sul afegão que servia de bastião ao seu regime obscurantista e protector de Ben Laden. Mas a verdadeira batalha estava apenas a começar: convencer os afegãos de que os americanos, e os seus aliados da NATO, não eram uma repetição dos invasores brit
ânicos do século XIX ou dos soviéticos no século XX."
Que os afegãos não são pêra doce, como também já o escrevia Eça de Queiroz, nas suas famosas Cartas de Inglaterra :
O Afeganistão e a Irlanda
Dizia o Eça : "Os Ingleses estão experimentando, no seu atribulado império da Índia, a verdade desse humorístico lugar-comum do século XVIII:
«A história é uma velhota que se repete sem cessar.»
O fado ou a Providência, ou a entidade qualquer que lá de cima dirige os episódios da campanha do Afeganistão, em 1847, está fazendo simplesmente uma cópia servil, revelando assim uma imaginação exausta.
Em 1847, os Ingleses – «por uma razão de estado, uma necessidade de fronteiras científicas, a segurança do império, uma barreira ao domínio russo da Ásia...» e outras coisas vagas que os políticos da Índia rosnam sombriamente retorcendo os bigodes – invadem o Afeganistão, e aí vão aniquilando tribos seculares, desmantelando vilas, assolando searas e vinhas: apossam-se, por fim, da santa cidade de Cabul; sacodem do serralho um velho emir apavorado; colocam lá outro de raça mais submissa, que já trazem preparado nas bagagens, com escravas e tapetes; e logo que os correspondentes dos jornais têm telegrafado a vitória, o exército, acampado à beira dos arroios e nos vergéis de Cabul, desaperta o correame e fuma o cachimbo da paz... Assim é exactamente em 1880.
No nosso tempo, precisamente em 1847, chefes enérgicos, messias indígenas, vão percorrendo o território, e com grandes nomes de pátria, de religião, pregam a guerra santa: as tribos reúnem-se, as famílias feudais correm com os seus troços de cavalaria, príncipes rivais juntam-se no ódio hereditário contra o estrangeiro, o homem vermelho, e em pouco tempo é todo um rebrilhar de fogos de acampamento nos altos das serranias, dominando os desfiladeiros que são o caminho, a entrada da Índia...
E quando por ali aparecer, enfim, o grosso do exército inglês, à volta de Cabul, atravancado de artilharia, escoando-se espessamente por entre as gargantas das serras, no leito seco das torrentes, com as suas longas caravanas de camelos, aquela massa bárbara rola-lhe em cima e aniquila-o".
Como se vê, é o que está acontecendo em 2007
Diz-se que já nos tempos de Alexandre o Grande, quando este invadiu o Afeganistão lhe roubaram o seu famoso cavalo, o Bucéfalo. Depois, ameaçados por Alexandre, e com medo dele, acabaram por lho devolver.
Como dizia Eça, «A história é uma velhota que se repete sem cessar.»

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