Fui Bocage, o Rei das Broncas !

Nasci Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage, em Setúbal no dia 15 de Setembro de 1765 e morri em Lisboa em 1805. Dizem que fui um dos maiores poetas portugueses e possivelmente o maior representante do arcadismo lusitano.

Herdei o Barbosa por parte do pai e o Hedois du Bocage do avô materno.Apesar das numerosas biografias publicadas após a minha morte, boa parte da minha vida permanece um mistério. Fui um homem moderno, pois acreditei sempre mais no sexo do que no amor.

Por causa das minhas broncas e da minha vida boémia estive engavetado no Limoeiro, no cárcel da Inquisição, no Real Hospício das Necessidades e até no Convento dos Beniditinos. Foi aí que Frei José Veloso me conseguiu pôr a viver de forma mais decente e recatada.

Morri de aneurisma numa rua do Bairro Alto.Também é lá do alto, que me puz a olhar para este Portugal e para o Mundo de hoje, e resolvi escrever neste blog umas novas broncas.

Nos meus tempos fui perseguido pela Inquisição e pelo Pina Manique, depois veio o Salazar com os seus esbirros da Pide, agora os governos de turno tentam impedir as criticas com perseguições modernas, com as Finanças a perseguir pelo IRS, escutas telefónicas, perseguições nas carreira e etc., etc., mas como eu já estou morto...o pior é para aqueles que ainda estão vivos !

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Um século depois, Portugal imita a Inglaterra !

Livros a mais...mas escritores a menos !

Ultimamente, parece que em Portugal não há ninguém que não escreva livros. Publicam-se cerca DE MIL TÍTULOS DIFERENTES por mês. Um amigo do autor deste blog, licenciado em História e funcionário de uma grande biblioteca na área de Lisboa, dizia-me que as editoras precisam de dinheiro "fresco" e ser esse o motivo de tantas edições ! Será ?

Há mais de cem anos, já Eça de Queiroz encontrava esse "fenómeno" na Inglaterra. Escreveu o Eça nas suas crónicas:

Cartas de Inglaterra - Acerca de livros

«Nada elucida como um exemplo. Aqui está a lista dos livros de viagens publicados em Londres nestas duas últimas semanas. É claro que eu não os li, nem sequer os enxerguei. Copio os títulos, somente, da lista de dois jornais de crítica: o Atheneum e a Academy.

Note-se que estes livros são quase sempre bem estudados: dão o traço e a linha que pinta, a paisagem com a sua cor e luz, a cidade com o seu movimento e feições; são gráficos e são críticos; têm a geografia e têm a observação; e mais ou menos fazem reviver com o detalhe característico o povo visitado, na sua vida doméstica, a sua religião, a sua agricultura, o seu desporto, os seus vícios, a sua arte, se a tem. Calcule-se, pois, a importância desta literatura, que se toma assim um inquérito sagaz, paciente, correcto, feito ao universo inteiro.

Aqui está, com os títulos traduzidos, o que se publicou nestes quinze dias: A Minha Jornada a Medina; Entre os Filhos de Han; Nas Águas Salgadas; Longe, nas Pampas; Santuários de Piemonte; O Novo Japão; Uma Visita à Abissínia; Vida no Oeste da Índia; Pelo Mahakam a cima, e pelo Bania a baixo; A Cavalo pela Ásia Menor; Cenas de Ceilão; Através de Cidades e Prados; No Meu Bungaló; As Terras dos Matabeles; Fugindo para o Sul; Terras do Sol da Meia-Noite; Peregrinações na Patagónia; O Sudão Egípcio; Terra dos Magiares; Através da Sibéria; Notas do Mundo do Oeste; Caminhos da Palestina; Norsk, Lapp e Finn (onde será isto Santo Deus!); Guerras, Peregrinações e Ondas (Que título, Deus piedoso!); A Linda Atenas; A Península do Mar Branco; Homens e Casos da Índia; A Bordo do «Raposo» Desporto na Crimeia e Cáucaso; Nove Anos de Caçadas na África; Diário de Uma Preguiçosa na Sicília; A Leste do Jordão...

Ainda há outros, ainda há muitos – e em quinze dias!

Seria curioso dar paralelamente a lista de poemas, livros de poesias, odes, baladas, tragédias, anunciados ou já publicados na primeira quinzena da estação – mas não tenho paciência em revolver todo esse lirismo. Há uma «grande sensação»: o livro de Dante Rosseti, um dos mestres modernos: o resto é apenas um bando amoroso e triste de rouxinóis.

Não menos espessas, nem menos compactas, são as listas dos livros de teologia, controvérsia, exegese, etc. – exalando de si uma melancolia de cemitério. Em metafísica há o costumado sortimento – maciço e vago, como diria Herbert Spencer.

Em história, biografia, crítica, as listas bibliográficas vêm riquíssimas... Enfim, ao que parece, é uma formidável e grandiosa estação de livros. Aos romances, nem aludo: montões, montanhas – e monturos

Comentário - Escreveu o Eça que não os leu nem sequer os enxergou, mas se vivesse hoje, era natural que tirando algumas excepções, talvez também não perdesse tempo a ler ou a enxergar, a maioria dos que se publicam actualmente em Portugal. Mas pelo menos fica a quantidade !

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